sexta-feira, 6 de março de 2009

DIREITOS HISTÓRICOS


SONHO OU PESADELO?

Aquela conversa sobre os direitos históricos deiaxara-me confuso: confuso e inquieto. Sim, sobretudo inquieto. E terá sido por isso que, de repemte me vi num mundo estranho, perturbado por lutas renhidas, guerras ferozes entre povos que até aí sempre me pareceram bons vizinhos, unidos por interesses que nunca imaginara fictícios.
Naquele quadro tenebroso, cruzavam-se anarquicamente, sem lógica nem coerência, séculos e períodos geológicos, coordenadas do tempo e do espaço, raças,culturas e religiões.
De vez em quando, em momentos que se assemelhavam a clareiras na impenetrável floresta virgem das iamgens sonhadas, vinham algumas identificações que se sumiam, logo que começava a pôr alguma lógica no seu movimento:
Havia um grupo misterioso de irlandeses proferindo impropérios contra os Romanos e invadindo a Europa, que reivindicavam como herdeiros do império celta. Mais terrível me pareceu o grito de Rodrigo e dos seus cortesãos, que queriam restaurar o reino arruinado pela traição do conde Julião e a fúria expansionista dos árabes e dos mouros de Taric.
Do outro lado, Átila pareceu-me um cordeiro manso, imolado na guerra restauracionista dos italianos, reclamando direitos históricos sobre quase todo o ocidente: porque, diziam, somos os herdeiros do império arruinado pelas invasões bárbaras.
E era um nunca mais acabar de reivindicaçõse, em nome de direitos históricos: o Irão reclamava a Grécia, porque guardava o túmulo de Alexandre Magno... os cristãos da Ásia Menor, como herdeiros do império bizantino, revoltavam-se contra a Turquia, o Iraque, a Síria, o Líbano... grande parte dos países muçulmanos do Oriente Médio, porque os haviam deixado sem pátria.
Acordei coberto de suor, no momento em que me pareceu ver os fantasmas dos Cananeus... Ainda bem que não vi o rersto...
Mas fiquei a pensar que reclamar direitos históricos sobre seja o que for, será sempre regredir na civilização.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

HORAS DEPOIS


Na hora dos artistas

Um dos preconceitos da cultura post-cristã é que todos podem ser poetas, menos o autor da poesia; (claro que, como é fácil de perceber, tomo aqui o termo no seu sentido mais amplo, que não se refere apenas o tratamento criativo da realidade intramundana, mas abrange a própria produção dessa realidade.
Não deixa de conter uma enorme dose de ironia – aquela ironia com que a história se ri das nossas vaidades – o facto de, no momento em que os estudos bíblicos atingem um nível superior de compreensão das formas que marcam os textos sagrados, haver tanta gente culta a recusar credibilidade a esses textos, precisamente pelo que comtêm de mais humano: como se Deus não pudesse servir-se dos instrumentos que Ele próprio forneceu às suas criaturas.
Empurra-me para esta reflexão, algo que não me parece pura coincidência:
Na liturgia romana, lemos os primeiros capítulos do Génesis, onde a teologia e a arte são utilizadas por Deus, com a mesma liberdade com que tira do nada todas as coisas.
Passou um dia da comemoração do 179º aniversário da morte de Marcos Portugal – nome que me ficou na memória, não apenas pelos anos que passei no número oito da rua que tinha o seu nome (será que ainda tem?), mas sobretudo porque aí mesmo me ensinaram a apreciar o seu valor e a sua arte.
O calendário litúrgioco dos dominicanos recorda hoje o nome de João de Fiésole, mais conhecido por Frei Angélico, um artista cujo talento fica a dever muito à sua fé.
Finalmente, acabamos de sepultar o membro do presbitério de Leiria-Fátima que nas últimas décadas mais cantou e fez cantar, alimentando a força do talento criador e executivo com a profundidade de uma fé de que só não se deram conta aqueles que andavam muito distraídos.
Beleza criada, arte criativa, sensibilidade... tudo são dons de Deus, o artista supremo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

EQUÍVOCOS EMPOBRECEDORES

SERMOCINATIO,
Uma das palavras possíveis para traduzir a nossa "tertúlia", deu-se como nome a este blogue, que se destinava a contnuar conversas, reais ou imaginárias, de que se gostaria levar por diante alguns temas. Naceu há mais de uma ano e ficou pelos balidos do parto... Tento dar-lhe vida com os pensamentos que me vieram à mente, num dia de sol fraco, mas luminoso, enqaunto descia a rampa ocidental da serra de Aire

Será que verdadeiramente se enriquece?

Devagar, como é meu hábito, por uma estrada cheia de recordações, inicio a descida da serra.
O azul do céu searapintado de nuvens ligeiras, ar limpo por chuvas demoradas, boa visibilidade, horizonte aberto, olhar espraiando-se, quase até ao infinito.

Lascia chio pianga mia cruda sorte
E che sospiri la libertà!

Almerina e Rinaldo: música de Haendel, voz apaixonada de Merli Horn.
As Cruzadas, a beleza das donzelas muçulmanas e o romantismo dos cavaleiros cristãos... A Idade Média recuperada pelos artistas da Renascença e do Barroco.
Esta música tem quase a força de um vulcão: por pouco não me distraio do volante, do carro, que só me leva em segurança se cuido dele.
O meu espírito remexe agora naquela pregação que me deixa uma certa amargura: não pelas ideias, creio que absolutamente correctas, apesar dos equívocos que a cada momento a atravessavam.
Equívocos, infelizmente alimentados por outros equívocos, que podiam ser evitados, se não tivéssemos permitido a anarquia da linguagem, posta agora ao serviço da ignorância, ela sim, crescente em todos os campos.
Dois de Fevereiro, festa da Apresentação do Senhor: Apresentação, entrega, oferta, consagração... Dia dos consagrados: um passo para se misturarem, não me atrevo a dizer, confundirem, coisas tão diferentes como: conversão, disponibilidade, inclinação, espírito de serviço, vocação, celibato apostólico, profissão religiosa, ordenação sacerdotal.
Uma sementeira de confusões das quais faz parte o uso que hoje se faz de palavras como eucaristia, evangélico, ecuménico, clérigo, religioso, etc., etc.
Alguém me responde: assim se enriquece a língua.
Eu só pergunto: desde quando é que o equívoco se tornou enriquecimento da linguagem?
Distraio-me de novo com a música de Haendel: esta, pelo menos, por muitos equívocos que contenha, não viola a minha liberadde de pensar sem barreiras escusadas:
Lascia chio pianga mia cruda sorte
E che sospiri la libertà!